Fui a um evento literário no Sábado, dia 5 de Outubro, em Leiria. Foi divertido e esclarecedor. De manhã tivemos um painel com editoras que trabalham em editoras em Portugal. Entre os assuntos abordados estavam o custo de publicar um livro, o que a editora faz e como os autores são recompensados. Eu sempre achei os preços de livros digitais (ebooks) muito elevados e que a diferença de preço entre o livro físico e o digital muito pequena. Principalmente depois que se ouve a representante da editora dizer que a distribuição custa geralmente 60% do valor de capa do livro. Como um livro que não precisa ser distribuído e, portanto, não tem esse custo todo, custa quase o mesmo preço que o livro que é distribuído?
Vou dar um exemplo prático. A Editora Almedina publicou um livro chamado “Como ler literatura” em ambos os formatos e a diferença de preço entre eles é de 2 euros, apenas 11% do preço do livro físico. E isso comprado diretamente do site da editora. E o frete é grátis, ou seja, está embutido no preço do livro. Como podemos ver, a diferença de preço entre o físico e o digital favorece a compra do livro físico, apesar da margem de lucro do livro digital parecer muito maior, já que não há custos de papel, impressão e distribuição.
No entanto, disse a representante da editora, que o público português não gosta de livro digital, que é um mercado muito “tradicionalista” e ainda muito apegado ao físico. É fácil, pelo menos para mim, o apego ao físico está no lado da editora, não dos compradores de livros. Mas por quê? Por que a editora não tem interesse em vender o livro digital que tem um custo pelo menos 60% menor, não precisa ser distribuído às livrarias e pode ser vendido diretamente pela editora ao consumidor final? Um produto que não precisa ser armazenado, nem destruído ao final do contrato? Eu confesso que não sei, mas tenho alguns palpites.
O primeiro, o livro físico não é facilmente “pirateado”. O alcance dos empréstimos entre amigos e familiares é limitado geograficamente e não é muito simples, nem barato, fazer uma cópia do livro físico para distribuir aos conhecidos. Já o livro digital é facilmente copiado e distribuído para amigos, familiares, conhecidos e até desconhecidos através da internet. Não me parece ser do interesse da editora que todos comprem o livro digital, já que a editora vê todos os leitores como possíveis piratas e criminosos. O livro digital, ao contrário do livro físico, não pode ser emprestado. É crime! Será?
Se for para uso privado, sem distribuir e sem lucrar, não é crime. Mas as editoras não gostam disso, então focam no livro físico como uma contramedida. Elas só disponibilizam o livro digital porque é uma parte do processo de edição do livro, atualmente todo livro físico começa digital, e não há trabalho extra envolvido. Portugal tem os menores salários da Europa e é um dos países da Europa onde mais se baixa “conteúdo pirata”. Aqui os livros são caros, uma edição d’O Hobbit custa 33 reais no Brasil, 5,62 euros. Uma edição parecida em Portugal custa 21,90 euros. O livro no Brasil custa 2,4% do salário mínimo. O livro em Portugal custa 2,7% do salário mínimo. Existe uma relação entre o salário baixo e a pirataria alta?